Em uma saudação na língua do
povo ao qual pertence, abriu a fala e brincando, pediu licença a quem estava no
ambiente. “Bom dia a todos os amigos aqui presentes, espero que este encontro
seja tão bom para vocês como vai ser para mim”, saudou, em uma referência aos
ancestrais. “Nossos avós diziam que quando vamos encontrar alguém, temos que ir
com o coração aberto e alegre para que o encontro seja bom, desejando que as
pessoas que estão no lugar se sintam da mesma forma”, pontuou, ao lembrar que
estar conectado com o meio ambiente é estar conectado com a poesia do universo.
A luta
pelo meio ambiente é a luta de todo povo brasileiro"
Daniel Munduruku
escritor e doutor
escritor e doutor
“Vou falar de outras
tantas coisas que não são meio ambiente, mas também são. Quero olhar nos olhos
e conversar. Para começar, vou destacar que não sou índio e que não existem
índios no Brasil. O que existem são povos. Eu sou Munduruku e pertencer a um
povo é ter participação dentro de uma tradição ancestral brasileira. Quando eu
digo que não existem índios, quero dizer que existe uma diversidade muito
grande de ancestralidade. São pelo menos 250 povos indígenas e são faladas pelo
menos 180 línguas no Brasil”, disse.
Para ele, a palavra ‘índio’
surgiu de maneira equivocada e reduz os povos. “Está ligada a uma série de
conceitos e pré-conceitos. Normalmente ela está vinculada a coisas negativas,
embora haja muito romantismo na história, a maioria do pensamento quer dizer
que o índio é um ser fora de moda, atrasado no tempo e selvagem. Alguém
que está atrapalhando o progresso e continuamos reproduzindo um estereótipo que
foi sendo passado ao longo da nossa história”, criticou."
O bate-papo foi permeado por
lembranças do indígena, que contou histórias sobre a própria vida, a fase de
transição entre infância e adolescência e a perda do avô, que segundo ele, na
tradição Munduruku, é quem transmite os ensinamentos dentro de uma família ou
tribo. Com isso, ele chegou à dúvida dos presentes que era: como começou a
escrever e se tornou acadêmico. “Quando meu avô morreu, me fez entender o que
era ser Munduruku e eu sempre quis lembrar dele assim. Queria ser como ele, um
contador de histórias. Demorei para saber como seria meu caminho, se seria na
tribo ou na cidade, mas optei pela cidade e pela vida acadêmica e hoje estou aqui,
transmitindo estas histórias que são tão cheias de sabedoria de vida e de meio
ambiente”, pontuou.
Em relação ao meio ambiente e
aos questionamentos feitos pelo público, o indígena destacou a questão da
evolução humana e no Brasil a construção de barragens. “O povo Munduruku está
sofrendo com a construção das barragens, seja em Belomonte, seja em Rondônia,
enfim, eles estão lutando para viver. A natureza e o ambiente que os índios
vivem fazem parte da humanidade deles. Eles lutam para se manterem e lutam por
um Brasil inteiro que não tem a consciência de perceber isso. A luta pelo meio
ambiente é a luta de todo povo brasileiro”, finalizou.
Fonte: G1 Notícias
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