Entre os pancararus, no Sertão pernambucano, o ritual de sepultamento tem a participação de entidades espirituais chamadas de encantados.
Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem
A
despedida a entes queridos é sempre dolorosa. Qualquer que seja a origem do
morto e da família, todos esperam se despedir da melhor forma possível de quem
foi tão importante em suas vidas. A cerimônia do adeus, porém, não tem o mesmo
significado para todos os povos e religiões, que têm rituais e crenças
diferentes.
Segundo o professor
colaborador do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade
Federal de Pernambuco (DAM/UFPE) Bartholomeu Figueirôa, o brasileiro criou uma
cultura em relação à morte: "Roberto da Matta diz que a pessoa evita falar
sobre a morte, mas cuida muito dos mortos. Eles são como agregados à família
dos vivos". Conheça abaixo exemplos de despedida.
CANDOMBLÉ - Uma das religiões de matrizes
africanas, o candomblé não vê a morte como o fim. De acordo com o babalorixá
Marcos de Ossain, "é apenas a continuidade de um ciclo". "A
pessoa deixa de ser a matéria, perde a matéria, para se tornar um
espírito", explica. A crença da religião é de que, quando nasce, a pessoa
é acolhida no Aiê (terra) por um orixá: "É ele quem vai guiar a pessoa,
cuidar dela durante a vida, dar o caminho".
Quando a pessoa
morre, é realizado um ritual pós-morte, chamado Axexê: "Ele ocorre em
etapas; primeiro o corpo é preparado, em uma forma de liberar o espírito da
matéria". Segundo Marcos de Ossain, a preparação é feita em uma casa de
pai de santo, é sagrada e só conhecida pelos que praticam a religião. Após o
desligamento, acontece o velório, no qual cânticos convidam os ancestrais para
que eles recebam o novo Egum (espírito), e todos os espíritos são
louvados.
Depois do velório,
o Ará (corpo) é sepultado. Após um ano da morte, é realizada a renovação da
cerimônia, que ainda é repetida com três anos e depois sete. Em caso de morte
de pai ou mãe de santo, a cerimônia de louvação dura sete dias após o
sepultamento. Neste período, as pessoas se privam de prazeres; não consomem
bebida alcoólica nem praticam relações sexuais.
CATOLICISMO - Para a igreja católica, o Dia de
Finados tem o significado de lembrar a memória das pessoas que faleceram. Neste
dia, os fiéis visitam os cemitérios e realizam celebrações. De acordo com o
padre Jacques Trudel, a igreja "reza para que Deus possa acolhê-los na
misericórdia". o enterro é normalmente realizado nas 24h que sucedem a
morte.
No velório e
enterro, que costumam ser no mesmo momento, é celebrada uma missa de corpo
presente, com a presença de velas, incenso, água benta e flores. "A
incensação é um sinal de veneração, a água serve para lembrar do batismo, a
vela representa a vida que vai se queimando, a luz é um sinal de Deus, e o
crucifixo é para recordar que Cristo morreu por todos nós e é a luz da
ressurreição", explica.
Outro símbolo da fé
na igreja é o luto. Segundo o padre, antigamente as pessoas costumavam vestir roupas
de cores simbólicas (normalmente preto) para demonstrar que tinham perdido um
amigo ou familiar. "É importante para as pessoas que ficam viver o luto e
permitir-se o luto, é um momento de partida e de entender que precisamos deixar
o outro morrer para viver", explica.
INDÍGENAS - O ritual de despedida dos mortos entre os
indígenas varia de acordo com a etnia ou tribo. Na aldeia Pancararu, em
Tacaratu, município do Sertão de Pernambuco, distante 450 quilômetros do
Recife, o ritual de sepultamento tem a participação de entidades espirituais
chamadas de encantados (os praiás). Cobertos da cabeça aos pés, eles saem das
matas tocando gaitas e balançando chocalhos. Fazem uma reverência na porta da
casa onde o morto está sendo velado, antes de entrar. Dentro da casa, cantam e
dançam em volta dos caixões. O praiás acompanham todo o cortejo fúnebre.
JUDAÍSMO - Para os judeus, a morte é uma
passagem que representa uma herança que a pessoa deixou para a comunidade e sua
família. "A vida, para os judeus, tem um sentido muito forte", diz a
diretora científica e curadora do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco,
Tânia Kaufman. Segundo ela, não existe céu nem inferno para a cultura do
judaísmo.
Para o enterro de
um ente judeu, o corpo é preparado e lavado por pessoas especializadas da
comunidade, para que ele volte a ser como era quando nasceu, purificado.
"A pessoa é vestida com uma túnica branca, independente se é rica ou
pobre, e é realizado um velório. Fecha-se a tampa do caixão e ela é sepultada
no cemitério judaico", explica Tânia. Antes do funeral, os membros da
família do morto rasgam um pedaço de suas próprias roupas, como símbolo do
luto.
A simplicidade do
enterro judeu deve-se ao conhecimento pela religião de que "a morte é
democrática". No Recife, existem dois cemitérios judaicos: o Cemitério
Israelita do Barro e um espaço no cemitério Parque das Flores, ambos
localizados na Zona Oeste da capital pernambucana.
MAÇONARIA - Apesar de não ser uma religião, a
maçonaria - sociedade secreta de homens - tem rituais próprios que são
compartilhados entre as pessoas da ordem. "O sepultamento do irmão é feito
de acordo com o desejo da família. Quando os irmãos participam, eles vão ao
cemitério vestidos com o avental de maçônico - que varia conforme a ordem e o
grau - e cada um deposita um ramo de acácia, que representa a
imortalidade", informou a assessoria de imprensa do gabinete do Grão
Mestre Daury Ximenes, do Grande Oriente de Pernambuco. O grupo também costuma
rodear o caixão do irmão enquanto pede para que ele seja bem recebido na outra
vida.
As pessoas que
ingressam na maçonaria podem possuir crenças diferentes desde que acreditem em
um "supremo arquiteto do universo", que pode ser Deus, Alá, entre
outros. Com o mínimo de sete dias após a morte, é realizada a cerimônia das
"pompas fúnebres", que é uma reunião feita na loja maçônica, especialmente
para homenageá-lo. Essa cerimônia é aberta ao público e com a presença de
familiares do morto.
PROTESTANTISMO - Cerimônias fúnebres de protestantes
se assemelham às católicas, em que o enterro é acompanhado por uma celebração
religiosa (culto). Para eles, o céu e inferno existem, e o julgamento final
acontece pela fé que o morto teve na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor. Não
se utilizam velas, apenas flores, nem há uso de crucifixo.
OBS: Este texto tem como função subsidiar o
aprofundamento teórico do/a docente. Ele auxiliará o processo de pesquisa. A
informação que não se sabe e precisa saber.
O mesmo não tem uma linguagem adequada para ser utilizado com os
estudantes do 1º ao 5º anos.
Devemos lembrar que os textos utilizados em sala de
aula, com os nossos estudantes devem ter linguagem própria de acordo com a
faixa etária, o ano trabalhado e para cada conteúdo abordado.
O texto informativo é uma produção textual com informação sobre um determinado assunto, que tem como objetivo esclarecer uma pessoa ou conjunto de pessoas sobre essa matéria.
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